A Arte e o Modo…
«A Arte é tudo. Tudo o resto é nada» (Eça de Queiroz)
Apaixonado do Belo, José Maria Neves Figueiredo, o Zé Maria, que adoptou o nome ar􀆡s􀆟co
«Teresa», em honra da sua Mãe – o princípio de tudo – considera que a beleza está na Arte, e
a Arte esteve sempre na sua vida desde a infância, quando, segundo o próprio, em simples
folhas de papel, lançava os seus estados de alma, em modo de desenhos. E foi deste modo
que o menino começou a sonhar a Arte, e a Arte foi nele desabrochando em todas as
Primaveras de um futuro a vir.
Zé Maria «Teresa» nasceu em Vila do Conde, em 07 de Agosto de 1957. O facto de ter nascido
em Vila do Conde, cidade envolvida numa luminosidade mágica, que sempre despertou os
sen􀆟dos dos Ar􀆟stas, fez despontar nele uma personalidade criadora, segundo as suas
próprias palavras. «Teresa» não se contentou em ficar pelo Desenho. A Arte chamou-o de um
modo tão intenso, que nela se lançou em vários modos, seguindo o seu ins􀆟nto, pondo à
prova o seu talento nato, em cada obra que criava. Sem escola, sem professor, sem mecenas,
o Zé Maria «Teresa» foi subindo sozinho até ao cimo da montanha, onde Apolo, o deus das
Artes, lhe acenava, incen􀆟vando-o nos vários modos de encarar a Arte.
O Zé Maria sonhava e acreditava nos seus sonhos, por isso, apesar dos obstáculos que ia
encontrando no seu percurso ar􀆡s􀆟co, insis􀆟u, não desis􀆟u e, desse modo, venceu.
No início, dedicou-se ao desenho a nanquim, depois vieram os linóleos, as mono􀆟pias, as
esculturas, os óleos, os vitrais (a sua Arte maior), as serigrafias, as cerâmicas, a vitrofusão, a
medalhís􀆟ca.
Em todas estas técnicas de Arte “Teresa” encontrou um modo de ser livre, criando, dando
forma ao seu sonho de criança. E ao criar a sua Obra foi fazendo o seu caminho em chão
agreste, em direcção a um mundo onde, para um Ar􀆟sta encontrar o seu lugar ao Sol, ter
apenas talento não basta.
Entre o dever (o Zé Maria trabalhava na Biblioteca Municipal de Vila do Conde), e a devoção,
a sua Arte, esta foi ocupando os seus sen􀆟dos, e as suas Obras nascendo em modo dos sonhos
que ia sonhando.
A sua primeira exposição, Pintura e Desenho, realizou-se em 1976, no Salão Nobre do Clube
Naval Vilacondense. Estão quase a completar-se 50 anos de uma carreira ar􀆡s􀆟ca preenchida
com exposições individuais e colec􀆟vas em várias Galerias de Arte em Vila do Conde, Póvoa
de Varzim, Porto, Lisboa, França e Espanha, tendo ob􀆟do vários prémios.
«Teresa» vive numa época em que o Mecenato é coisa da Renascença, uma época áurea do
passado. O apoio ins􀆟tucional às Artes e aos Ar􀆟stas é quase inexistente, em Portugal, o que
demonstra a miséria cultural em que o nosso País está mergulhado, quando, no dizer de Eça
de Queiroz, «A Arte é tudo. Tudo o resto é nada».
O Zé Maria «Teresa» venceu por mérito próprio.
E eis que para esta exposição, agora patente n’ A Filantrópica, nos brinda com um Acrílico,
dois óleos, mono􀆟pias e um belíssimo vitral, representando um dos ex-libris de Vila do Conde,
a famosa Renda de Bilros.
Numa dedicatória a “Teresa”, no Catálogo que celebrou os seus 20 anos de carreira ar􀆡s􀆟ca
(1976/1996), o Poeta vila-condense A. Monteiro dos Santos escreveu: «Daqui a uns anos a
minha cidade sen􀆟rá orgulho nele [Zé Maria] e, como ele também afirma… «será que terá a
cidade direito a chamar-me seu?». Este é o modo irreverente do Ar􀆟sta que, se não fosse
irreverente, se calhar não era Ar􀆟sta».
Não, Zé Maria não seria Ar􀆟sta sem a sua irreverência, ou seja,
sem o seu modo de não se conformar com as injus􀆟ças, até
porque as Artes também são um modo de as denunciar.
Sim, Vila do Conde, bem como o resto do mundo, tem todos
os mo􀆟vos para sen􀆟r orgulho de “Teresa” e do percurso que
fez para nos deixar uma Obra onde as formas, as cores e as
técnicas ar􀆡s􀆟cas se encontraram no modo como o Ar􀆟sta
sonhou a sua Arte.
Isabel A. Ferreira
Póvoa de Varzim, 18 de Março de 2025
(A autora deste texto, não sendo cúmplice da ilegalidade, escreve de acordo com o que foi estabelecido na
Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945, pelo Decreto nº 35.228 de 08 de Dezembro de 1945, actualmente
em vigor, “de jure”, em Portugal)